27/05/2017

Embarque no mundo colorido de Laís Soares - Parte 2

Ilustração O bom do Amor Laís Soares

Ela é de Julho - Observando seus lindos trabalhos anteriores, podemos ver que você não costuma desenhar pessoas. Como foi esse desafio para você?
Laís - Os temas dos meus desenhos geralmente têm a ver com um universo meio onírico, costumo ilustrar muitos bichos e plantas. Quando desenhava pessoas, geralmente era uma figura feminina, e nunca de corpo inteiro. O fato de “O Bom do Amor” ser uma proposta em que eu deveria desenhar pessoas - as mesmas pessoas - sempre em cenários e posições diferentes foi uma das coisas que mais me deixaram com medo de pegar o projeto. Eu tive que passar por um processo de abandonar o perfeccionismo, de parar de comparar o meu desenho com outros estilos - o que é um hábito nada saudável, mas muitas vezes involuntário e que ainda estou aprendendo a controlar. Tive que colocar na minha cabeça que o meu trabalho não precisava ser 100% perfeito em relação aos fundamentos clássicos de desenho - principalmente anatomia e perspectiva - desde que ele passasse uma ideia. Então foi a única coisa que eu me impus de verdade: precisa passar um sentimento, uma expressão. Precisa funcionar. Até porque o perfeito nem existe, em ilustração não existe certo e errado, apenas jeitos diferentes de cumprir o objetivo de expressar. Mas também não me permiti utilizar esse pensamento pra me acomodar, porque sempre temos como melhorar. Logo depois de ter terminado “O Bom do Amor”, comecei a fazer um curso de desenho e estou absorvendo para o meu traço alguns fundamentos pra que ele se desenvolva melhor e tenha mais recursos para ser cada vez mais expressivo.

Ela é de Julho - Esse foi seu primeiro trabalho como ilustradora? Como foi essa experiência?
Laís - Foi! Tudo que eu fazia em relação a ilustração era extremamente pessoal. Já ilustrei alguns textos de outras pessoas, é um processo que eu gosto muito mas nunca tinha feito profissionalmente. Geralmente desenhava para presentear amigos, ou pra ilustrar algumas coisas que eu sentia ou pensava, ou alguma música. A experiência foi muito legal e muito menos aterrorizante do que eu esperava. Eu sou designer e trabalhei por muito tempo em agência de publicidade, onde é comum termos milhões de alterações nos materiais e termos a impressão de que nunca vamos agradar de verdade o cliente, mesmo quando justificamos todas as nossas escolhas com fundamentos técnicos que passamos um tempão estudando. Eu estava meio que acostumada com esse tipo de coisa, e tinha medo de que isso acontecesse com a ilustração, porque não tinha experiência em lidar com isso nessa área e não gostaria de transformar uma coisa que gosto tanto em uma experiência estressante. Mas foi justamente ao contrário, a experiência me fez amadurecer muito e me ajudou a deixar pra trás pensamentos tóxicos que eu tinha em relação ao meu trabalho. Foi uma oportunidade de evolução pela qual serei sempre muito grata.

Ela é de Julho - Como foi sua relação com a autora Chris Melo durante o processo de ilustração?
Laís - A Chris foi uma querida do começo ao fim. Ela já tinha a ideia pronta, muito bem organizada e desenvolvida, então quando cheguei no projeto, foi pegar e fazer. Acho que os nossos trabalhos foram tão sintonizados que não precisei fazer nenhuma alteração, em nenhum desenho. Os feedbacks dela eram sempre apaixonados e eu sentia que ela estava feliz de ver as palavras dela ganhando cores, e isso me incentivava tanto, foi tão importante. O prazo desse projeto foi uma loucura, muito apertado, e ela dividiu comigo um material muito bem descrito, então tudo funcionou muito bem, apesar da correria.

Ela é de Julho - Como surgem suas ilustrações? As inspirações vêm todas do próprio texto ou há um trabalho de pesquisa antes da criação?
Laís - Nas minhas ilustrações, meu processo sempre vem de lugares diferentes e até bem aleatórios. Às vezes é uma experiência, uma música, um filme, um livro, alguma outra ilustração, ou algum tema muito subjetivo. Por exemplo: me deu vontade de fazer alguma coisa aquática. Daí pode sair uma baleia, pode sair uma série de nadadoras com maiôs coloridos, pode sair uma textura manchada de aquarela em tons oceânicos profundos, ou em azul piscina. Tem vezes também em que me vem na cabeça, do nada, alguma cena muito específica, tipo uma personagem com expressão muito chique com uma máscara feita de rosquinha. Aí eu anoto e desenho depois. A pesquisa de referências costuma vir depois desses estalos, mas também tem casos em que estou aleatoriamente vendo referências e os estalos aparecem. Isso tudo acontece com os meus desenhos pessoais. No caso de “O Bom do Amor”, já tinha um bom caminho andado, pois a Chris já sabia como seriam os personagens. Ela os descreveu pra mim, e eu fui buscando formas de expressar visualmente as características que ela deu a eles.

Ela é de Julho - Você tem uma técnica de desenho bem diferenciada.Quais técnicas você utiliza?
Laís - A técnica com a qual me sinto mais confortável é aquarela, mas gosto de misturar e tentar outras coisas. Acho que uma das principais características do meu trabalho é que sempre procuro colocar algo de manual e artesanal nele - sou muito adepta às técnicas analógicas, acho que elas têm uma carga diferente de carinho e singularidade. Gosto de trabalhar com tintas em geral, mas sempre passa por ajustes digitais antes de ser considerado final. Às vezes os ajustes acabam mudando bastante a cara do desenho, e aí fica uma mistura analógico-digital que eu gosto muito.

Ela é de Julho - Você poderia citar alguns dos seus trabalhos preferidos?
Laís - Além de “O Bom do Amor”, gosto muito de um pequeno projeto editorial que eu fiquei mais de um ano pra terminar. Chama-se “Conversa de Herbário” e é um conjunto de dez histórias sobre plantas, que eu escrevi, ilustrei, diagramei, imprimi, encadernei, tudo em casa. É muito especial pra mim. Tem também o “Calendário de Banana”, que fiz pra faculdade em 2014. Tinha que ser um calendário fotográfico e quis fazer com o simples tema: banana. Outro que gosto muito é uma série de aquarela que fiz e misturei com fotografias de plantas, o “Reachy Hands”.

Ela é de Julho - O que você gosta de fazer nas horas vagas?
Laís - Eu pratico karatê, uma paixão recente, assisto séries e filmes e leio bastante.

Ela é de Julho - Quais são seus projetos?
Laís - No momento, pretendo continuar desenvolvendo meu desenho, e tenho várias ideias para séries de ilustrações. Quero investir mais em ilustrações digitais, pois é um jeito mais fácil de unir ilustração com a minha profissão de designer. Estou trabalhando nessa “migração” do digital pro analógico, pois quero manter as características do meu desenho em técnicas diferentes.

Ela é de Julho - Quais sonhos você ainda deseja realizar?
Laís - Acho que o principal é o de viajar bastante e de continuar participando de projetos com os quais eu realmente me conecto.

Acabou por aqui, obrigada Laís! Aguardamos ansiosos por mais desenhos, que não somente ilustram os textos, mas também nossos dias.
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