13/09/2018

Mais do que stand-up: Fábio Lins

Fábio Lins

O Ela é de Julho fez uma entrevista incrível com o comediante, Fábio Lins.
Natural de Brasília, Fábio Lins se formou em Curitiba e em São Paulo. Atua desde os seus 11 anos e com 17 anos começou no stand-up. Ao decorrer de sua carreira se especializou em comédia, improvisação, mímica, stand-up comedy e teatro físico. Hoje, coordena o Espaço da Comédia em São Paulo, onde ensina todas essas técnicas a pessoas que querem iniciar suas carreiras e aprimorar sua habilidades artísticas.
Em nossa conversa, Fábio conta como começou na comédia, quais foram seus maiores desafios e quais são seus projetos.
Bora conferir!

Ela é de Julho: Quando e como foi o inicio da sua carreira? O que te levou a seguir o caminho do humor?
Fábio Lins: Eu nunca tinha focado na comédia. Até os meus 16 anos, mais ou menos, eu fazia teatro já desde os 11 e a minha vontade era só de ser ator mesmo e até tinha uma preferência pelo drama. Mas, a verdade é que eu fui descobrir a comédia quando eu entrei no curso de um cara incrível lá em Curitiba, Mauro Zanatta, ele tem um espaço lá que se chama "Oficina do ator cômico" e lá a gente tinha um curso de comédia, para atores e não atores. Nesse momento eu vi que eu me dava bem naquilo e lá nasceu o meu primeiro texto de comédia. Nessa época tinha o Cabaré do Diogo Portugal, que era um show muito bom de comédia que eu ia muito, era perto da minha casa, tinha um amigo que chama Fabio Silvestre, que é um ótimo ator, comediante, que fazia bastante esse show e ele me convidou para testar, falou assim "Por que você não arrisca fazer um número e tal?" Então, eu peguei esse texto que havia começado a criar lá no Mauro Zanata e escrevi mais e adaptei, fiz um trabalho lá para o palco desse show do Diogo Portugal e isso foi muito bom. Foi nesse momento que eu comecei, eu tinha 17 anos e foi muito legal. Esse show era incrível, porque tinham vários tipos de humor, tinha Stand-up, tinha contador de piadas, tinha personagem, tinha imitação, tinha música, era um "cabarézão" cheio de coisas voltada para a comédia, então era um baita laboratório.

Ela é de Julho: Quais foram suas maiores dificuldades? Já pensou em desistir?
Fábio Lins: A maior dificuldade... uma é aprender a fazer comédia, né? Eu demorei para pegar no tranco e para ter a disciplina de criar, aprender que eu tinha que sentar e escrever, pensar em piada e testar e errar, então isso era difícil no começo e se o comediante não tomar cuidado ele acaba ficando em uma zona de segurança e para de arriscar, para de escrever coisas novas, isso sempre é uma dificuldade para o comediante. E eu já pensei em desistir sim, não exatamente de "desistir", mas priorizar outras coisas além de comédia, por que como eu disse eu sou ator também e gosto de coisas que envolvam drama, ou que sejam mais corporais e não só faladas como no stand-up, mas hoje em dia eu já consigo equilibrar bem isso. Eu tenho um curso de teatro de improviso sem fala, onde a gente faz muita mímica, eu tenho meu show de stand-up, tenho uma peça. Dessa forma, eu vou expressando todos os lados artísticos que eu consigo, a partir do momento em que eu consigo ter as ferramentas necessárias para isso. Eu não pensei em desistir, mas já pensei em meio que dar um tempo da comédia para focar em outras coisas. Só que sonho em ficar fazendo stand-up para o resto da vida, até ficar velhinho, igual um cara que eu gosto muito o George Carlin.

Ela é de Julho: Quais são suas influências?
Fábio Lins: Minhas influências estão muito relacionadas a minha família, minha família gosta muito de piada, de dar risada, tá sempre falando bobagem, e amigos meus também, tem um amigo Daniel, tinha um amigo da infância o Vina, o Vina era muito engraçado. E as influências artísticas, esse cara que acabei de falar, George Carlin, ele é incrível, um baita de um comediante e gosto muito do Avner Eisenberg, é um palhaço. (Avner o excêntrico).

Ela é de Julho: Qual foi, ou é, o maior desafio da sua carreira?
Fábio Lins: O maior desafio da minha carreira aconteceu esse ano, em um show lá em Porto Alegre, um bar que se chama Skull. É um bar da Brahma, lá e eu fiz um show que era para eu ficar no palco uns 40 minutos, só que eu fui ficando, fui ficando, e a plateia foi gostando. Só que teve uma hora em que eu falei que precisava acabar o show, depois de mais ou menos uma hora e pouco, e eles falaram "Não, não fica ai!". Acabou que eu fiquei e já tinha dado duas horas de show, foi quando eu avisei "Galera eu preciso ir embora", ai eles insistiram para eu ficar, e eu falei "eu tenho umas 5 horas de piadas, né, mas nem todas são boas e eu acho que nem lembro todas também", ai eles responderam "A é? Então, faz aí 5 horas". Eles me desafiaram a fazer tudo, e eu acabei fazendo umas 3 horas e meia de show, foi muito doido, foi uma experiência incrível!

Ela é de Julho: Você é o autor do livro "10 passos da comédia stand-up: Como se ferrar menos no palco", conta um pouco como foi essa ideia. Teremos mais livros seus?
Fábio Lins: Esse livro nasceu dessa história deu dar aula, hoje em dia eu tenho uma escola, chama Espaço da comédia, já faz 5 anos que eu dou oficinas de Stand-up, curso de 4 meses, 5 meses também. A cada oficina eu ia aprendendo um pouco mais sobre como eu poderia instruir o aluno para ele descobrir a comédia dele e nisso, junto com o aluno eu fui desenvolvendo esses 10 passos que eu acho que são bem legais, se a pessoa seguir tenho certeza que ela vai conseguir ter um stand-up de qualidade. E sim, na verdade esse livro que você citou "10 passos da comédia stand-up" ele é uma versão que tem virtual, um e-book, e agora eu estou reescrevendo ele para lançar em uma versão física e também virtual, mas com mais conteúdo, com bastante coisa e eu acho que vai mudar o título, vai ter os 10 passos dentro dele mas, vai ter mais complementos. Eu quero lançar ele ainda esse ano.

Ela é de Julho: O que é o curso IMPROMÍMICA? Como começou a ideia?
Fábio Lins: O IMPROMÍMICA foi um curso que dei, que era uma pesquisa de mímica com improvisação. Ou seja, fazer teatro improvisado sem falas, cenas só em silêncio, um trabalho de teatro físico. Eu sou formado em mímica total no Estúdio Luis Louis, que é meu parceiro, vizinho do Espaço da Comédia e há muitos anos pratico a improvisação e isso surgiu dessa vontade de fazer um trabalho de improvisação que fosse internacional, em que eu pudesse levar para vários festivais, porque é difícil ter um grupo de teatro aqui no Brasil, que super domine inglês e espanhol para poder enviar material para fora, né? E é uma pesquisa que eu acho muito maravilhosa, essa do teatro sem fala, eu já estudei isso lá em Curitiba com Mario Zanatta, muito tempo e depois com Luis Louis também. Então, me encanta muito esse trabalho. E dentro do teatro de improviso, eu acho que fica muito em cima da fala, tudo se resolve muito falando, falando e eu queria realmente aprofundar essas pesquisas de resolver as cenas no silêncio e ver o que acontece a partir disso, foi a partir daí que esse curso Impromimica gerou um grupo de teatro que se chama: IMPROMIME.

Ela é de Julho:  Hoje em dia vivemos o momento do humor politicamente correto. Qual sua opinião sobre isso? Você acha muito limitador para o artista comediante ou acha certo que exista um limite? Afinal, existe limite para o humor?
Fábio Lins: Bem, quanto ao limite do humor, o limite é a graça, né? É isso, eu acho que não tem nenhum tema que seja tabu, assim, que você não possa falar, que seja proibido, isso é censura, isso é ditadura. A questão é como se fala desse tema e se você consegue fazer uma piada realmente boa sobre aquilo, eu não sou a favor do humor de "bullying pelo bullying", de sair falando mal de forma aleatória, mas eu acho que se a piada for muito, muito boa, acho que vale a pena e acho difícil fazer esse tipo de humor, de tocar em um assunto que seja delicado e fazer todo mundo entender seu ponto de vista cômico e fazer todo mundo rir. Em um show isso é mais controlável, mas quando por exemplo, você pega uma piada de um comediante, em que ele faz em um show de stand-up, escreve ela e publica na internet ou em jornal, ai pode sair totalmente do contexto e a pessoa vai ler a partir da interpretação que ela quer e é muito fácil ver aquilo como ofensa ou como algo de super mal gosto. É totalmente diferente de um contexto de um show ao vivo, então isso pode gerar muito problema. Eu não acho que o humor tenha um limite de tema não, eu acho que o limite é a graça, no sentido de que tem que se fazer uma piada muito, muito boa, quanto pior o tema, melhor tem que ser a piada.

Ela é de Julho: No stand-up, qual a sua maior dificuldade? Já aconteceu algo constrangedor em alguma apresentação sua com a plateia?
Fábio Lins: No stand-up acho que a maior dificuldade é você estar trazendo piadas novas com uma certa regularidade e piadas boas. É muito difícil testar piadas novas, todo comediante fica ansioso e nervoso com isso, porque sabe que pode errar, pode falhar, tem uma dificuldade de adaptar também né, cada show é um show diferente, a gente pega plateia diferente e se a gente não estiver preparado pode acabar fazendo escolhas erradas e fazer um show ruim. Mesmo tendo vindo de um show incrível do dia anterior não quer dizer que o próximo show vai ser ótimo. Então eu acho difícil achar um comediante que tem um ego muito inflado assim, porque todo comediante tem show ruim, sabe? E sim, já passei por varias situações constrangedoras, de plateia falar bobagem no meio do show, levantar e me ofender de graça. Já fiz show para empresa e eu falei o nome da empresa concorrente no final do show, foi uma cagada (risos), mas eu consegui reverter fazendo uma piada boa, passou batido, tudo certo. E eu já fiz um show em um casamento, que foi uma desgraça, foi horrível, era para eu ficar uma meia hora no palco e eu não fiquem nem 10 minutos e saí com vergonha, porque não era para eu estar ali! Era uma platéia muito diferente, tinha gente estrangeira, gente evangélica, gente que curtia rock 'n roll, ou seja, era um público muito misturado demais e eles não estavam ali para ver o show, então foi uma desgraça.

Ela é de Julho: Como começou a Escola da Comédia?
Fábio Lins: O Escola da Comédia é o resultado do meu curso de Stand-up comedy. Começou depois da primeira turma que fez um curso de 4 meses, que até então eu dava oficina de final de semana, de dois dias, três dias, mas eu vi que isso não era o suficiente, então eu resolvi fazer um curso mais longo, e aí depois do curso acabar eu vi que isso também não era o suficiente, porque eles precisavam ter um espaço para eles se apresentarem com mais frequência. Foi a partir daí que começou esse projeto Escola da Comédia, onde todos os alunos que fazem meu curso longo, presencial, entram no elenco do Escola da comédia.

Ela é de Julho: Quais seus projetos?
Fábio Lins: Hoje meus projetos são vários, eu sou um louco que não paro de fazer coisas, geração Y, que faz um monte de coisa ao mesmo tempo. Eu tenho o Espaço da Comédia, onde a gente conduz lá vários cursos de improvisação, de teatro, de dança, de stand-up comedy, eu e outros professores, e lá a gente também tem uma programação de apresentações nos finais de semana. Eu tenho o IMPROMIME, que dirijo, um grupo de teatro de improvisação com mímica, temos mandado nossos espetáculos para projetos lá no exterior. E esse ano estreamos lá em Amsterdã, no festival, foi muito legal. Eu tenho um trabalho solo novo que chama "Livra-me" que é um monologo, não é stand-up é uma peça que é autoral, eu que criei, e lá tem um pouco de comédia, um pouco de drama, tem mímica, tem um monte de coisa, mas é um trabalho mais de ator mesmo. E eu continuo com Escola da comédia, fazendo shows e quero retomar também um show de improvisação de jogos de comédia que chama "Do Nada" com Allan Benatti. Fora isso, toda semana a gente posta no instagram o "Bitos e bolota" que são tirinhas de humor em que eu faço o roteiro e o Gilmar, que é um cartunista incrível faz os desenhos. E também toda semana eu posto dicas para quem quer ser comediante no meu canal do youtube e estou escrevendo, como eu te falei, o livro, que eu ainda não achei o nome correto, mas eu vou lançar ainda esse ano, um livro sobre comédia Stand-up.


Para quem quer saber mais sobre os cursos do Espaço da Comédia ou quer entrar em contato com Fábio Lins, só acessar o site: https://www.fabiolins.com.br/
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